Restaurantes em SP: DJs transformam jantar em experiência

Gastronomia como entretenimento: a aposta dos restaurantes em DJs para transformar jantares em experiências sociais

Na capital paulista, diversos estabelecimentos têm investido na presença de DJs como estratégia para se destacar em um cenário gastronômico cada vez mais competitivo. Segundo especialistas em comportamento urbano, essa tendência está alinhada com o conceito global de “gastronomia como entretenimento”. Para os proprietários, a inclusão de DJs não apenas aumenta o tempo de permanência dos clientes, mas também altera o perfil do público frequentador, associando a marca a um estilo de vida que pode ser mais valorizado do que o próprio sabor da comida.

Em uma noite de quinta-feira em Pinheiros, por exemplo, o ambiente do Oli Pizza se assemelha a uma balada discreta. Entre garrafas de vinho e pizzas de fermentação natural, um DJ mescla vinis de soul e MPB, criando um clima propício para conversas. Essa fusão entre música e gastronomia transforma um simples jantar em uma experiência coletiva.

O papel dos DJs nos restaurantes

Um DJ residente é um artista que atua regularmente em um local, ao contrário dos DJs convidados, que se apresentam ocasionalmente. Essa mudança na dinâmica dos restaurantes reflete uma nova abordagem, onde o espaço é visto como um local de convivência, quase uma mistura de bar, balada e restaurante. Com essa estratégia, os empresários visam aumentar o ticket médio e atrair um público mais jovem, que valoriza a experiência em detrimento do tempo gasto.

Olivia Maita, proprietária do Oli Pizza, relatou que a introdução de DJs mudou a clientela, que agora chega mais tarde e consome mais bebidas. Ela observa que essa tendência não é nova nas capitais globais e remete à busca por uma experiência mais completa ao sair de casa.

De acordo com uma pesquisa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) e do Sebrae, o ambiente é um dos fatores mais relevantes na escolha de um restaurante, apenas atrás da limpeza e do atendimento. Portanto, o investimento em música pode ser um diferencial decisivo em um mercado saturado.

A nova vida noturna dos restaurantes

No Seen São Paulo, um restaurante localizado no 23º andar de um hotel, a programação musical fixa complementa a vista panorâmica da cidade. Marco Amaral, vice-presidente de operações da Minor Hotels na América do Sul, destaca que os restaurantes estão se tornando destinos noturnos, em vez de meras paradas durante a noite.

Além disso, a música selecionada pelos DJs evolui ao longo da noite, começando em um tom mais suave e crescendo em energia, criando uma atmosfera de celebração e exclusividade. Esse cuidado com a ambientação se reflete em uma experiência gastronômica que vai além do prato servido.

A dimensão simbólica de comer fora

A socióloga Camila Crumo aponta que o ato de comer fora carrega um significado simbólico e social. As escolhas alimentares não são apenas sobre saciar uma necessidade biológica, mas também sobre expressar pertencimento a um grupo que compartilha códigos culturais semelhantes. Assim, a experiência no restaurante se torna uma forma de exibir identidade social.

Essa característica se intensifica nos restaurantes, onde os consumidores não apenas escolhem o que comer, mas também como essa escolha reflete seu status social e cultural. A inclusão de DJs nos estabelecimentos contribui para essa construção de identidade, oferecendo uma trilha sonora que pode variar desde jazz até funk, moldando a experiência de quem frequenta o espaço.

O desafio de criar o set perfeito

Para DJs como Caroline Barbosa, conhecida como Carol Selecta, o desafio é criar um ambiente que sustente a experiência de jantar sem afastar os clientes. Ela explica que em um restaurante, a música deve ser pensada para manter o público envolvido, permitindo conversas e consumo contínuo. O volume e o estilo musical são cuidadosamente planejados para garantir que a experiência seja agradável e convidativa.

O DJ Trusty, veterano na cena musical de São Paulo, ressalta a importância de escolher músicas que ressoem com o público e que se tornem parte da memória da refeição. Segundo ele, a pandemia trouxe mudanças no comportamento do público jovem, que busca alternativas aos clubes, fazendo dos restaurantes uma opção viável para uma experiência noturna mais equilibrada.

Conclusão

No mercado de restaurantes, a competição vai além do menu e dos preços. A socióloga Camila Crumo destaca que o que diferencia os estabelecimentos é um conjunto de códigos que inclui decoração, apresentação dos pratos e música ambiente, todos elementos que despertam identificação e comunicam a posição social do lugar. Assim, a escolha de um restaurante envolve não apenas a refeição, mas também os valores e significados que a experiência oferece.

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